- A Paz Através de Uma Tigela de Chá -

Notícias do Japão

Vivendo por cerca de seis anos e meio no Japão; além de ser um país de pequeno território, é peculiar pela mudança nas quatro estações, que nos apresentam uma sequência de emoções e novas surpresas tanto na cultura quanto na língua, e também nas diferenças regionais.

 

Visita aos kamamoto – ateliês com forno de ceramistas

Nesta oportunidade eu visitei a cidade de Hagi na província de Yamaguchi. É uma pequena e tranquila cidade com um castelo. Famosa por sua cerâmica e muito citada pelos mestres do chadô, que consideram as tigelas para cerimônia do chá uma das melhores. A classificação das cerâmicas de acordo com eles é: “1º Raku 2º Hagi 3º Karatsu”.

Nas sessões de prática de chá manuseei pela primeira vez a tigela para chá verde em pó – chawan. No Brasil também me foram mostrados diversos chawan e com isso, comecei, pouco a pouco, a ter interesse pelas tigelas.

Foram-me apresentados, por um funcionário de uma loja local, os kamamoto de autores como o filho do ceramista candidato a tesouro nacional humano, além de outros com obras expostas em vários museus de arte no exterior.

Os kamamoto estavam nas áreas residenciais da cidade de Hagi, eram fornos noborigama pequenos.

Eu tinha conhecimento de que a cerâmica Hagi possuía um aspecto terroso, da cor de nêspera, e tinha um corte no pé da base (kôdai), mas aprendi que há outras cores, formas e várias maneiras de modelar.

Além disso, pela primeira vez, soube que o detalhe devido à mudança originada na queima (aquilo que eu pensava que fosse uma rachadura), é algo também a ser apreciado. Assim como, a obra do mesmo autor muda de valor quando tem hakogaki assinado pelo pai, distinguido como tesouro nacional humano.

201507_nihondayori01A cerâmica Hagi pode ser claramente reconhecida à primeira vista, na maioria das tigelas tem uma fissura pela qual, no início, vaza água, mas conforme são usadas, o vazamento para, por penetrar chá na fissura; e escutei dizer que se pode desfrutar da mudança de cor da peça à medida que o chá se infiltra.

As pessoas de Hagi costumam ter alguns chawan iguais, um não é utilizado para poderem comparar com o que foi, e notar a diferença; isto se torna um momento de prazer.
Pela primeira vez que visitei os kamamoto tive o privilégio de ver diretamente as obras de famosos autores.

Deu para perceber as dificuldades com relação aos valores das peças, que variam, porque são levadas em conta diversas condições, além da obra em si.

E eu que não tinha absolutamente conhecimento nem senso estético; foram-me apresentadas algumas peças, sem mostrar o nome do autor, e dentre elas, escolhi algumas que gostei e, às vezes, eram obras do mesmo autor.

 

Nos Museus

Em vários museus estão realizando exposições comemorativas aos 400 anos de Rimpa. Dirigi-me aos museus particulares, relativamente pequenos, mas o surpreendente é que na maioria deles, as salas de chá refletem o gosto pessoal de cada um. Além disso, no lugar onde estava apreciando o famoso “biombo de Íris – Kakitsubata-zu” de Ogata Korin tinha um jardim de íris. Poderão apreciar na foto, a mudança quando se visita o mesmo lugar um pouco fora da época da floração.

 

Eu mencionei, no início, que o Japão é um país pequeno, mesmo assim, há diferenças na alimentação, cultura e no significado e uso das palavras. Por exemplo, quanto à diferença de palavras, têm histórias que falam que, por medida de segurança, o samurai usava certa linguagem para não ser decifrado pelo espião.
Quanto aos alimentos, estes são produzidos para consumo local. No entanto, é comum a todas as regiões o sentido de valorização das estações do ano.

O que relatei é só uma parte, pois se refere à experiência de meio ano. Agora no Japão estamos entrando na estação chuvosa, algo característico, mas que não é muito bem-vinda, porém mesmo assim, gostaria de continuar descobrindo a beleza, a engenhosidade e o sabor de tempos antigos.

Maio, 2015
Setsuko Yamazaki

Julho de 2015

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