O brocado de ouro Kinran (Parte 1)
Nosso próximo assunto será o brocado kinran (金襴), tecido com fios de ouro. Estudaremos as características desta técnica de tecelagem, e alguns motivos kireji dela representativos.
Kinran
O termo kinran refere-se à técnica de tecelagem que emprega fios de ouro (ou folheados a ouro) para criar desenhos e padrões decorativos. Tipicamente, o plano de fundo do tecido é feito com ligamento em sarja ou cetim, sobre o qual formam-se figuras em tafetá simples (para mais informações sobre esses termos, ver nosso artigo anterior, Damasco (donsu) e damasco Dôgen (Dôgen-donsu)).
Sua origem remonta à antiga China; dentre os vários métodos chineses de tecelagem, o uso de fios de ouro chamava-se “ouro tecido”, orikin 織金 (na pronúncia chinesa atual, zhījīn). Acredita-se que sua introdução no Japão deu-se através dos robes de monges budistas; tais vestimentas, chamadas kesa 袈裟, viram bastante uso do ouro tecido. A palavra ran襴 originalmente significava “robe”, e um robe budista com ouro tecido era chamado “robe dourado”, 金襴衣 kinran’e. É provável que a palavra tenha sido abreviada para kinran e, em japonês, assumido o sentido do tecido em si, ao invés do robe. A técnica de produção transmitiu-se ao Japão, onde depois prosperou na zona têxtil de Nishijin 西陣, em Kyōto.
O esplendor do kinran é tamanho que, mesmo dentre os kireji de renome, este tipo de tecido goza do mais alto prestígio. Graças a isto, ele é amplamente usado para fins diversos; além dos robes budistas, também se faz com kinran vestimentas de teatro Nô, molduras (hyōsō 表装) para obras de arte, bolsas (shifuku 仕服) para potes de chá chaire, etc.
Myôshinji-Kinran
O nome deste padrão refere-se ao templo Myôshin-ji, em Kyôto, onde diz-que era usado decorativamente nos umbrais de entrada (o templo Myôshin-ji é a sede da Myôshinji-ha, sub-seita do budismo Rinzai Zen; o nome budista do templo é Shôbô-zan Myôshin-ji). O desenho do Myôshinji-kinran é floral, com camélias tecidas em tamanho deveras considerável; as figuras são dispostas em camadas, e a cada camada alterna-se a direção das folhas e flores.
Julho de 2017