Washitsu – Sala de estilo japonês: Fusuma
Fusuma (襖), porta ou divisória corrediça de papel, é um dos elementos peculiares em casas tradicionais do Japão, utilizado para dividir o espaço do washitsu e para abrir o armário embutido (oshi-ire 押入れ). Normalmente usa-se como porta corrediça dupla, e pode facilmente ser aberta e fechada, ou removida quando necessário; também é uma peça de adaptação muito flexível, que pode alterar livremente o tamanho da sala a ser usada.
Diz-se que o fusuma nasceu durante o período Heian (794-1185). Naquela época, as residências dos nobres eram construções de palacetes (shinden-zukuri 寝殿造り), sem qualquer repartição nas salas. Portanto, usavam biombos ou cortinas (kichô 几帳) como divisórias da sala, e o termo genérico dessa instalação era shôji (障子).
A etimologia da palavra fusuma (襖), escrita com os ideogramas “臥間’’, remete-nos ao sentido literal de “espaço para deitar”, e se diz que nos dormitórios dos palacetes, para garantir certa privacidade visual, colocavam portas de papel ou tecido, com trava para que não pudesse ser aberta nem fechada, de onde nasce o nome de fusuma (臥間). É o início do uso do fusuma shôji (襖障子), como uma divisória para o dormitório. Depois disso, usaram nos fusuma shôji os padrões da China, chamados de karakami唐紙, difundindo-os com a denominação de karakami shôji (唐紙障子). Por esta razão, ainda hoje o fusuma é chamado também de karakami.
Ao término do período Heian, a técnica de manufatura do papel já era de alto nível, e surge o papel fino colado no shôji translúcido (akarishôji 明障子). Este é o “shôji” atual. Portanto, o “fusuma shôji” e o “karakami shôji” eram chamados de “fusuma”. O rolo de pintura do Conto de Genji, escrito no final do período Heian, tem o desenho do fusuma que pode ser aberto e fechado, e nos leva a crer que a porta corrediça dupla já era usada nas residências aristocráticas.
No período Kamakura e Muromachi (séculos XII a XVI) os fusuma duplos se tornam comuns e a mesma forma de uso se mantem no presente. As residências dos samurais de classe superior e dos monges dos templos eram em estilo de arquitetura doméstica (shôin-zukuri 書院造り), e nos fusuma ostentavam pinturas decorativas clássicas japonesas (Yamato-e 大和絵) e pinturas em nanquim (suibokuga 水墨画) de paisagens, pessoas, flores e pássaros, animais etc.
Durante o período Azuchi Momoyama (séculos XVI a XVII) foram construídos, ininterruptamente, luxuosos castelos e mansões, templos etc. O fusuma, portanto, indicava o grau e a posição social do samurai. Surgem, nos grandes salões, obras-primas de pintores representativos daquela época, inaugurando a idade de ouro das pinturas em fusuma. Muitas obras dessa época permanecem até hoje. Por outro lado, junto com o desenvolvimento do chadô, as salas de chá da época de Rikyû demonstram o ideal estético de wabi-sabi. Também é desta época o fusuma sem borda, na porta de entrada do anfitrião da sala de chá (taikobari fusuma 太鼓張り襖). No período Edo, os fusuma também se tornaram comuns nas casas das cidades.
O fusuma tem uma estrutura de treliça de madeira com várias camadas aplicadas de papel washi em ambos os lados da armação, e o acabamento dá-se com uma cobertura de papel externo hyôshi (表紙). A estrutura é emoldurada de madeira e tem puxador para abrir e fechar. Como material interno, atualmente há muitos fusuma baratos e leves que utilizam plástico e papelão ondulado em seu interior, chamados “fusuma de produção em massa”; mas nos modelos de fusuma japoneses tradicionais (estilo antigo), a parte interna é feita de papeis washi sobrepostos várias vezes, de modo que possibilitam formar uma camada de ar para respiro. Portanto, tem o efeito de conservar o calor e de controlar a umidade, evitar o frio do exterior e, no período de alta umidade, absorver a mesma e liberá-la no tempo seco. É perfeito para as residências no Japão que são muito úmidas. O fusuma é usado não só como divisória, mas também para o armário embutido, sendo muito eficaz contra a umidade. Dizem também que tem o efeito de absorver o fumo do tabaco e substâncias químicas.
O método convencional de construção do fusuma, até os dias atuais, não mudou em sua estrutura básica. Mesmo tendo havido transformações no modo de vida do povo japonês em mil anos, a técnica herdada, relacionada à produção e conhecimento que se possui do fusuma, ainda agora é preservada com muito cuidado.
Junho de 2018