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Washitsu – Sala de estilo japonês: Tokonoma

Nesta oportunidade, explicaremos sobre o tokonoma (床の間).

tokonoma é um dos elementos decorativos vistos em uma sala de tatame da casa japonesa, é o espaço a um nível elevado do solo, onde são expostos o rolo pendurado de caligrafia ou pintura (kakejiku 掛け軸), obras de arte, ikebana, entre outros. Se diz que a palavra correta é toko (床), e tokonoma (床の間) é um termo popular. Toko é um vocábulo usado desde o período Nara (por volta de 710 a 794), significando o lugar de sentar-se (za 座) ou de dormir (nedoko 寝床) dos aristocratas de alto escalão. Além disso, tudo indica que simbolizava também a prosperidade da família, pois tinha ainda o significado de tokoshie (永久). Por isso, o tokonoma está localizado no lugar de honra, o mais recuado da sala.

Em geral, é composto de:
– tokobashira 床柱 [pilar da frente, perto do meio da sala];
– tokogamachi 床框 [peça horizontal na borda frontal inferior de um tokonoma mais elevado];
– tokoita 床板 [piso de madeira do toko)] ou tokodatami 床畳 [quando o piso do toko é de tatame];
– otoshigake 落し掛け [a parede curta na parte superior da frente].

Quanto ao formato há variedades:
– fumikomidoko 踏込床 – o nível do piso do toko e do tatame da sala são iguais;
– kekomidoko 蹴込床 – o piso de madeira do toko é elevado a um nível mais alto que o do tatame;
– fukurodoko 袋床 – defronte ao toko, em um dos lados, tem-se uma parede adjacente, lateral e estreita, em forma de bolsa (fukuro);
– okidoko 置床 – toko removível.

De sua funcionalidade, diz-se que a origem é do período Muromachi (aproximadamente 1336-1568), pois na casa dos bonzos, ante a pintura de Buda colocava-se uma mesinha e nela alinhavam o trio de objetos mitsugusoku (三具足): incensório, vaso de flores e castiçal. Logo é construída a mesinha embutida, e aparece o oshiita (押板) (o antecessor do tokonoma), tornando-se popular entre os samurais e a nobreza.

Oshiita é o toko, uma tábua grossa instalada no tatame. Naquela época, os objetos karamono 唐物 (obras artesanais vindas da China) eram muito apreciadas entre as classes mais altas, e era moda usá-los para decoração. O oshiita era usado na apreciação de karamono que, às vezes com intuito de ostentação competitiva, exibia-se no espaço ao lado do tokonoma (tokowaki 床脇) e na sua parede, onde está o conjunto de prateleiras escalonadas chigaidana 違い棚, o pequeno armário ou prateleira com porta corrediça fukurotodana 袋戸棚 e até no gabinete de estudo (shoin 書院).

Originalmente shoin era o nome da sala de estar e estudo, a habitação do cotidiano do monge zen, mas logo tornou-se amplamente conhecido como sendo um zashiki kazari (座敷飾), isto é, uma sala de tatame ou uma estrutura equipada com tokonomachigaidana e tsukeshoin 付書院. O estilo de residência composto principalmente por esse gabinete de estudo chama-se shoinzukuri (書院造), e construía-se dando ênfase à funcionalidade do atendimento e dos encontros, respeitando as formalidades.

Parece haver muitos pontos obscuros no processo de desenvolvimento do oshiita para o tokonoma, mas tem-se o fato de elevar um degrau do solo “jôdan 上段” no lugar onde o nobre senta, o que resulta no tokogamachi, e no fato de estender tatames no lugar onde as pessoas sentam, entre outros pontos, de modo que alguns pesquisadores presumem que a junção do oshiita e do jôdan fez surgir o tokonoma. Além disso, há um boato que Sen Rikyû fez Hideyoshi sentar no tokonoma, e acredita-se que o tokonoma do chashitsu também tinha o jôdan, piso elevado.

Junto com a ascensão do status social dos samurais, a sala com tokonoma passou de um espaço de estudo para um de recepção, desempenhando o papel de mostrar a propensão do poder da casa. No período Edo usou-se, em algumas residências comuns como a do chefe de aldeia, para receber hóspedes de status mais elevado que o proprietário, como o senhor feudal ou governador local. Depois disso espalha-se a arquitetura de estilo sukiyazukuri que, influenciada pela cerimônia do chá, absorbe a essência do wabi-sabi, o tokonoma também muda para algo mais simples, a escrivaninha e as prateleiras chigaidana muitas vezes são omitidas, de modo que o tokonoma é em geral introduzido nas residências de pessoas comuns, difundindo-se por todo o país. A habitação com tokonoma é o melhor espaço para recepcionar os convidados, a pessoa mais alta da hierarquia senta-se de costas para o tokonoma e em direção à entrada, de modo que o lugar de se sentar era decidido segundo a ordem hierárquica. Por essa razão, o tokonoma foi eficaz para esclarecer as posições sociais. Ainda hoje existe o costume do lugar de honra, o principal kamiza (上座), e o secundário shimoza (下座). Parece que o costume de se sentar por ordem de classe social também foi constatado no sistema patriarcal do Japão.

Para o chanoyu, o tokonoma é algo indispensável. O anfitrião mostra no tokonoma o tema do encontro do dia, o rolo pendurado e arranjos sazonais em objetos e flores. O convidado capta o sentimento do anfitrião através da composição do tokonoma, e com sentimento de gratidão participa da cerimônia. Assim, entre anfitrião e convidado dá-se uma interação humana de sentimentos, a “comunhão de corações” (jikishin no majiwari 直心の交わり), fator importante mais do que qualquer outra coisa. E isso mostra o espírito de wakeiseijaku (harmonia, respeito, pureza, tranquilidade) do chanoyu. Um espaço como o do chashitsu, pequeno e estreito, tem um significado profundo, e a existência do tokonoma impulsiona a expansão infinita do espírito.

 

 

Dezembro de 2018