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Entrevista com Yokio Oshiro, presidente da Aliança Cultural Brasil-Japão (ACBJ)

A nona entrevista com personalidades no Brasil apresenta ao presidente da Aliança Cultural Brasil – Japão (ACBJ), Yokio Oshiro, descendente de japoneses da terceira geração (sansei), a quem pedimos diretamente para conversar sobre ambos países: Brasil e Japão.
Perfil

Nasceu no município de Cafelândia, região noroeste do Estado de São Paulo.
Família: Esposa e filha
Hobbies: Futebol e tênis.

Formação Professional:

Formou-se em Direito em 1975 e no ano seguinte após a aprovação em concurso público para cargo de Delegado de Polícia Federal, cursou a Academia Nacional de Polícia, em Brasília/DF.

Como Delegado de Polícia Federal foi promovido em todas as classes por mérito.  Entre os diversos cargos ocupados em sua carreira, destaca-se o de Superintendente da Polícia Federal nos Estados de São Paulo, por 5 anos e Mato Grosso por 3 anos. Também foi Adido junto à Embaixada do Brasil em Buenos Aires.

São muitas as condecorações recebidas entre outras os Títulos de Cidadão Paulistano, Cidadão Araçatubense, Cidadão Araraquarense, Cidadão Rondonopolitano, Cidadão Sorocabano, Medalha Tobias Aguiar da Polícia Militar de São Paulo.

 

Entrevistador: Poderia nos descrever seu trabalho e a entidade que o senhor preside?

A Aliança Cultural Brasil-Japão é uma associação sem fins lucrativos, que tem por finalidade o desenvolvimento do intercâmbio cultural entre o Brasil e o Japão.

Passaram-se 120 anos desde que se estabeleceram as relações de amizade entre ambos os países e a Aliança Cultural Brasil-Japão celebra nesta ano 60 anos de existência, exatamente a metade do Tratado de Amizade.

Muitos não conhecem sobre sua origem, portanto aproveito esta oportunidade para dizer que a Aliança nasceu de um sonho de um brasileiro, o príncipe dos poetas Guilherme de Almeida que tinha uma vinculação muito forte com a cultura japonesa por ser fervoroso adepto da poesia do estilo Haiku.

Ao término das comemorações do IV Centenário de Fundação da cidade de São Paulo (1954), o então presidente da comissão organizadora o poeta Guilherme de Almeida e membros da subcomissão, entre eles o Kiyoshi Yamamoto, entenderam que o fruto dos laços criados durante os trabalhos deveriam ser perpetuados no tempo e que a amizade entre os dois povos fossem cada vez mais incrementadas através de diversas atividades para a difusão e preservação da cultura de cada um desses países.

Assim, no dia 17 de novembro de 1956, foi fundada a ACBJ, inclusive a assinatura do Estatuto foi realizada no então jovem Pavilhão Japonês no Parque do Ibirapuera e teve como primeiro presidente o próprio poeta Guilherme de Almeida.

Após 60 anos, a ACBJ é hoje a maior instituição de ensino de língua e artes japonesas da América Latina, contando atualmente com duas Unidades: Vergueiro e São Joaquim, totalizando mais de 1.500 alunos matriculados. Além dessas Unidades a Aliança tem parceria para o ensino do idioma japonês como atividade complementar com o Colégio Arquidiocesano na Vila Clementino e Colégio Santa Maria em Interlagos.

Para final do próximo ano de 2017 está previsto o início de funcionamento do Centro Cultural Aliança em Pinheiros que se encontra com 85% das obras concluídas, onde funcionará a Unidade Pinheiros de língua japonesa, bem como demais cursos de artes japonesas. Nesse Centro Cultural a Aliança inaugurará novos cursos como o de instrumentos tradicionais japonesas: Koto, Shakuhachi e Shamisem, e da tradicional culinária japonesa no seu Espaço Gastronômico.

 

Entrevistador: Senhor Oshiro, conte-nos sobre si mesmo e a ACBJ.

Acabei me filiando à Aliança Cultural Brasil-Japão a pedido do amigo Anselmo Nakatani então seu presidente. E o convite, aliás, a missão para assumir a presidência da Aliança veio em seguida através de outro amigo comum o Desembargador Jo Tatsumi que também fora presidente da entidade. O convite foi aceito, primeiro pela honra de ser sucessor de dois tão ilustres amigos e profissionais bem sucedidos em suas áreas de atuação. Porém também que seria uma grande oportunidade para retribuir um pouco da minha experiência à comunidade nikkei, pois entendia que também tinha uma dívida para com meus pais que tanto me ensinaram e me deram a verdadeira educação japonesa.

Confesso que me surpreendi com a excelente organização da entidade Aliança, seu excelente quadro funcional, sua excelente equipe de professores e confesso que está sendo muito prazeroso, desafiador e honroso ocupar o cargo de presidente de uma das maiores entidades culturais do país.

 

Entrevistador: Converse-nos sobre os brasileiros e a cultura japonesa?

Se em tempos antigos, especialmente em alguns Estados brasileiros onde a comunidade japonesa quase não existia, ser japonês, descendente de japoneses era motivo de curiosidade, hoje no Brasil do Oiapoque ao Chuí, os costumes japoneses são tão absorvidos por todos os brasileiros que os apreciadores da culinária japonesa, do mangá, dos animés, das artes, etc. se igualam em números com os próprios descendentes. Por exemplo, dos 1.500 alunos matriculados na Aliança para o curso de língua japonesa mais de 40 por cento não são descendentes.

Por isso acredito que a tradição dos nossos ancestrais será permanente no Brasil e cada vez mais difundida. Basta verificar a enorme quantidade de entidades nikkeis existentes no Brasil, promovendo milhares de eventos anuais, muitos inclusive fazendo parte de calendário oficial. Na cidade de São Paulo, por exemplo, não é novidade termos mais de três grandes eventos no mesmo dia. Assim, entendo que estamos cumprindo o legado deixado pelos nossos pais e assim certamente passaremos a missão para os nossos descendentes.

 

Entrevistador:  Qual é sua relação pessoal com a Cerimônia do Chá e seus encantos?

Meu primeiro contato com a Cerimônia do Chá foi há cerca de vinte anos, durante uma visita oficial que fiz ao Japão.  Acompanhado de minha família compareci a uma cerimônia do chá que me foi oferecido em Tokyo. Lembro-me ter ficado impressionado com a sensação de paz, pelo silêncio, pela serenidade que a arte do Chanoyu transmitia a todos nós.

Doravante, se tiver a oportunidade, gostaria apreciar mais o mundo do chá.

 

Entrevistador: Qual é a sua filosofia de vida?

Saber ouvir as pessoas e aprender sempre.

 

A vida é um aprendizado

 

 

Muito obrigado por nos ter concedido esta entrevista.

Entrevista em novembro de 2016

 

Nota da redação

No dia 18 de novembro, no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo, realizou-se com êxito a Cerimônia de Comemoração dos 60 Anos da Aliança Cultural Brasil – Japão.

Janeiro de 2017

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