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16. Yûgen

Yûgen – delicadeza, sutileza, quietude e beleza, misteriosa profundidade.

Quando escutamos a palavra yûgen (幽玄), a primeira associação que nos ocorre é com o mundo do teatro Noh. Mas antes observemos o seguinte:
Analisando a partir da etimologia dos caracteres: “ 幽” significa vago, fraco, delicado, indistinto; “gen 玄”, razão profunda.

A partir dessas definições, yûgen é um dos conceitos básicos da cultura japonesa em vários campos artísticos, como artes literárias, pintura, artes cênicas e arquitetura. Originalmente, foi aplicado como um termo notório chinês, usado em assuntos chineses, como o budismo, a filosofia Taoísta, entre outros.

Porém, o termo foi bastante explorado por Fujiwara Toshinari, um poeta representativo do final do período Heian e início do período Kamakura, para rever a poesia japonesa, tornando-se assim o conceito central de tratados sobre tanka. Desde então, influenciou variados aspectos da literatura japonesa medieval, como o teatro Noh, o Zen, a poesia renga e haicai, a Cerimônia do Chá, entre outros, e continua sendo usado amplamente até a atualidade.

Para uma melhor compreensão do conceito yûgen, vejamos as seguintes definições:
1. A essência das coisas captadas em profundidade e de forma imensurável.
2. Ser de bom gosto, nobre e delicado.
3. Ser digno e elegante.
4. Conceito fluido ou herdado naturalmente de uma das ideias centrais da estética da literatura e arte medieval, “mono no aware” (sensibilidade à beleza das coisas, da natureza). Refere-se à beleza profunda e vaga que dificilmente pode ser expressada em palavras.

Assim, podemos perceber sua aplicação nas seguintes áreas:
a. Nos poemas waka, traduz a atmosfera elegante, gentil e suave do mundo imperial.
b. Nos poemas renga, refere-se a um estado brilhante, tênue e sensual que não pode ser expresso em palavras.
c. No teatro Noh, inicialmente referia-se a uma emoção bela e tranquila, mas com o tempo passou a exprimir uma atmosfera de refinamento com simplicidade.

【Estética do nada, beleza do Noh e Yûgen】

宮崎県延岡市内藤記念館蔵
Da coleção do Museu Memorial de Naitō, cidade de Nobeoka, Província de Miyazaki, Japão.

Vejamos isso especificamente no universo do teatro Noh:
1. Minimização: O mundo infinito é evocado pela remoção de todo o excesso e minimização da realidade. Cenários, adereços, a performance, máscaras e figurinos próprios, instrumentos e acompanhamento musical, iluminação, etc., tudo está direcionado para expressar a minimização.
2. O fundo do palco principal tem apenas um pinheiro pintado.
3. A iluminação do espaço é sempre constante, sem mudança no decorrer da representação.
4. A música é executada por um conjunto de instrumentistas (ohayashi), composto de somente três ou quatro pessoas. E oito coristas (jiutai) são mantidos permanentemente, não importando o tipo de apresentação.
5. O ator que interpreta o papel principal, usa uma máscara Noh e veste lindos trajes. Estas são obras de arte que representam a época e são muito formosas. As máscaras em si são consideradas de beleza profunda, misteriosa, e expressam sombras psicológicas sutis, com leves movimentos.

Enfim, o que é yûgen?

Essa palavra pode ser resumida na palavra japonesa mugen 夢幻 (sonho, fantasia, visão). No mundo do ator desse gênero, Zeami (1363–1443), fantasmas, demônios e espíritos tornam-se o ator principal (shite), e são definidos como algo sonhado pelos atores secundários ou de apoio (waki). Essa técnica é chamada de “mugen noh” (夢幻能).

Junho de 2022