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Notícias do Japão: Relembranças da minha viagem ao Marrocos

Uma viagem que marcou especialmente a minha memória, na época em que morei no Brasil, foi ir ao Marrocos, no norte da África. Viajar desde o Japão rumo a um lugar tão longínquo seria um périplo e tanto, no entanto, quando escutei que tinha um voo direto de São Paulo para este país, não duvidei em ir.

Lá, o que adoram é tomar o popular chá de hortelã quente. Servem tanto para as visitas como também para refrescar o paladar depois das refeições diárias. Comparando, penso que equivale ao cafezinho expresso de todo brasileiro. É levemente amargo, refrescante pela menta e de sabor prazeroso pelo açúcar que misturam nele. Durante a viagem só tomava este chá.

Dizem que a maneira de servi-lo depende de cada região e até mesmo de cada casa. De maneira geral, prepara-se o chá verde chinês na água fervente, coloca-se uma quantidade razoável de folhas frescas de hortelã e serve-se com bastante açúcar. Em restaurantes ou cafeterias o pedido vem individualmente numa chaleira pequena e servido em pequenos copos de vidro marroquinos.

Normalmente as folhas de menta já vêm colocadas na chaleira, com a quantidade suficiente da bebida para três vezes. Para servir-se, em primeiro lugar coloca-se o açúcar em cubos no copo, e sobre ele o chá quente. Em seguida, devolve-se todo o conteúdo, com o açúcar dissolvendo-se, para a chaleira. Só então é servido, com a doçura bem impregnada e misturada por igual. Dizem que, se a infusão for servida com certo vigor desde o alto do copo, o aroma da menta acentua-se deliciosamente. Dependendo, há lugares que já vem misturado com o açúcar numa chaleira grande, mas, normalmente, é possível pedir sem e tomar assim ou colocá-lo a gosto.

Parece que os marroquinos desfrutam do processo e tempo em que o chá está em infusão. Tem até um dito popular: “O primeiro copo é amargo como a vida. O segundo é forte como o amor e o terceiro é suave como a morte.”
A infusão deste chá é bem densa, por isso tomá-la sem açúcar é muito forte, mas para os japoneses que estão acostumados a tomar chá verde quente, não seria problema bebê-lo. Por outro lado, tive a sensação que ao aceitá-lo bem doce, ele tirava-me o cansaço e podia relaxar-me durante a viagem.

As chaleiras, a maior parte parece ser prateada, e de variados modelos, com enfeites. Há aquelas feitas com prata e estanho, com tratamento especial para que não fiquem escuras, outras que são de cobre e que podem ir diretamente ao fogo. As bandejas que as acompanham também são normalmente prateadas. Podem ser trabalhadas à mão por artesãos e serem muito belas e produzidas, sendo nestes casos, bastante caras. Os copos são geralmente pequenos, do tamanho para tomar em poucos goles, de vidro, transparentes e grossos. Nas lojas de presente dos mercados árabes (souq), podemos passar momentos bem entretidos vendo estes e outros produtos, destacados pelas suas belezas e cores, pelos desenhos e pelos enfeites elaborados.

Foi muito interessante e cativante descobrir que, em Marrocos, um país tão distante do Japão, existe também a cultura do chá verde. Tão fácil de tomar, tão gostoso. Vasilhas de chá tão charmosas como aquelas chaleiras, bandejas e copos que vi por lá.

Em alguma próxima oportunidade, recomendo a todos experimentar esta modalidade, como um jeito diferente de tomar o chá verde!

Hiroko Yamazaki

Junho de 2019

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