- A Paz Através de Uma Tigela de Chá -

Sakuramochi

No chadô, o doce japonês (wagashi) é oferecido antes de se servir o chá.  Ele pode ser degustado com os cinco sentidos, constituindo assim uma arte abrangente. Pode-se apreciar com os olhos a beleza do formato do doce e a expressão de uma das quatro estações do ano ao qual ele está relacionado. Através do tato, sentimos a sua textura e maciez. Pelo olfato e paladar, temos contato com o aroma de seus ingredientes e seu sabor delicado. O som do poema waka (forma poética tradicional japonesa) traz informações sobre o nome poético do doce e seu lugar de origem. Por isso também se referem ao wagashi como a “arte dos cinco sentidos”.

No Japão, a chegada da primavera acontece no mês de março com o florescer da sakura (flor de cerejeira). O doce japonês representativo neste período é o sakuramochi, um bolinho feito de arroz glutinoso (mochi) e uma pasta doce de feijão azuki com leve toque de sal (anko). O doce é enrolado em uma folha de cerejeira conservada em sal e é seu suave aroma que traz equilíbrio e um toque requintado ao doce, que evoca a contemplação das flores de cerejeira (hanami) através de seu aroma, cor e suave sabor primaveral.

Existem duas variações de sakuramochi, o Chômeiji e Dômyôji.  O Chômeiji (foto ①) é preparado com uma fina massa assada de farinha enrolando a pasta de feijão anko. Ele é mais comum na região de Kantô e conta-se que sua origem remonta o Período Edo: as folhas de sakura chamaram a atenção do zelador do templo Chômeiji enquanto ele varria as folhas caídas da árvore de sakura, percebendo então que poderia usá-las. O Dômyôji (foto ②) é originário da região de Kansai. O mochi que envolve o anko é feito com uma farinha diferente de arroz glutinoso, que é cozido no vapor e deixado secar, produzindo uma farinha mais grosseira, chamada de dômyôji-ko.

Os dois tipos de sakuramochi estão envolvidos também com as folhas da árvore de sakura que foi conservada no sal. As folhas possuem uma dupla função: preservar o aroma e evitar que o mochi resseque. Ela pode ou não ser comida junto com o mochi, fica ao gosto da pessoa que irá consumir o doce. Mesmo quando ela é retirada, seu aroma permanece no mochi, trazendo o doce perfume da primavera.

 

Março de 2017