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Padrões japoneses mon’yô: Pinheiro

Agora que finalizamos a série “O lenço kobukusa e os tecidos de seda kireji”, iniciada em março de 2017, que tal estudarmos juntos sobre os motivos de padronagem japonesa, os mon’yô?

Nós discutimos até agora sobre os desenhos dos tecidos kireji como um todo. Dando continuidade, será interessante analisarmos os vários motivos um a um.

Iniciaremos a nova série com uma combinação de motivos considerada auspiciosa, e usada no Japão com bastante frequência: o pinheiro, bambu e flor de ameixeira (Shô-chiku-bai 松竹梅). Neste mês trataremos do pinheiro.

Ao contrário da maioria das árvores nas zonas de clima temperado, o pinheiro ou pinho é capaz de tolerar o frio dos mais rígidos invernos, mantendo-se verde por todo o ano. Por isso, o pinheiro é desde a antiguidade tido como símbolo de longevidade, recebendo o cognome de “a árvore perene” (Tokiwa-gi 常盤木). Segundo o antigo costume do Kado-matsu 門松 ou “pinheiro no portão”, em todo ano-novo decora-se a entrada da casa com ramos de pinheiro e bambu, de 13 de dezembro até 7 de janeiro (em algumas áreas até 15 de janeiro). Trata-se de um sinal de boas-vindas às divindades do novo ano (Toshigami-sama 年神様), carregado também do sentido de longa vida do pinheiro.

O trio do pinheiro-bambu-ameixeira, considerado auspicioso no Japão, é apreciado desde a China antiga sob o título de “três amigos do tempo frio” (Saikansan’yû 歳寒三友, em chinês Suìhán-sānyǒu). Por manter-se altivos mesmo em meio à estação inclemente, este trio é tido como símbolo de integridade perante a adversidade.

Devido a estas associações, o pinheiro é um tema que aparece em desenhos de todas as estações, e sempre traz um sentido de felicitações.

 

O Velho Pinheiro (Oimatsu 老松)

A gravidade da passagem dos anos está retratada neste motivo, ilustrada por um pinheiro de muita idade. A arte com frequência ressalta as raízes que cruzaram as eras, o grosso tronco, os galhos recurvados nos quais sente-se o peso da história.

O Jovem Pinheiro (Wakamatsu 若松)

Este motivo retrata um pinheiro recém-germinante, nas pontas do qual entreveem-se novos e frescos brotos. Considerado um tema auspicioso por remeter à juventude, ao que vai crescer e madurar de agora em diante; e usado portanto em ocasiões como o começo da primavera. Uma teoria sobre a origem deste padrão conecta-o aos “Jogos do Dia do Rato” (ne no hi no asobi 子の日の遊び) que eram celebrados nas festividades de Ano-Novo, nas cortes dos períodos Nara e Heian (710–1185CE).

Pinheiro com Raiz (Nehiki-matsu 根引き松)

Este padrão visual também está ligado aos Jogos do Dia do Rato. O mesmo evento também era referido como “Pega-pinheirinho” (Komatsu-hiki 小松引き). No antigo calendário lunar, cada dia correspondia a um animal do zodíaco chinês, e o primeiro dia do Rato no ano era uma ocasião de banquetes e celebrações. Diz-se que um dos costumes, advindo da China, consistia em subir uma montanha e, fitando as quatro direções cardeais ao longe, exorcizar o mal e clarear as tristezas. No Japão praticava-se outras formas de afastar os males e buscar longevidade, como o “pega-pinheirinho” ou a “coleta das ervas frescas (wakana tsumi 若菜摘み)”, que eram consumidas.

O motivo mostra um pinheirinho recém-arrancado para as festividades, enrolado em papel para secar, com as raízes visíveis.

Arabescos com ramos de pinho (Matsu-Karakusa 松唐草) 

Os ramos de pinheiro simbolizam a longevidade; o efeito é ampliado combinando-os com o padrão de arabescos, cujo desenho sem começo nem fim sugere a eternidade.

Pinheiro-chapéu (Kasa-matsu 笠松) 

Em galhos que se estendem para as quatro direções, as folhas de pinho assumem um formato que lembra um chapéu de palha oriental. É um padrão muito popular, que encontramos com frequência em quimonos, faixas obi, louças etc. Se a composição superpõe vários ramos, ela cria a sensação visual de profundidade solene. 

Folha de pinheiro (Matsu-ba 松葉) 

Como o nome sugere, o padrão mostra folhas de pinheiro (também conhecida como agulhas, pelo formato). As agulhas de pinheiro aparecem no desenho ligadas duas a duas pela bainha (a estrutura onde brotam). Por isso, o padrão também é denominado “Pinheiro de duas folhas” (Niyô-matsu ニ葉松). As folhas na bainha são consideradas um símbolo muito auspicioso, porque não se separam mesmo depois que caem da árvore; por isso, o motivo também carrega sentido de felicidade para casais.

Lariço (Kara-matsu 唐松)

Embora seja chamado no Japão de pinheiro-da-China (Kara-matsu), o lariço ou Larix é uma árvore de outro gênero que o pinheiro propriamente (o Pinus). A espécie Larix kaempferi é nativa do Japão. Diferentemente dos pinhos, os lariços são decíduos: as folhas amarelam no outono, caem no inverno, e brotam verdes e frescas na primavera. O motivo mostra estas folhas primaveris, vistas de cima, espalhando-se em um padrão radial.

Lariço (Kara-matsu 唐松)

Glicínias no pinheiro (Matsu ni Fuji 松に藤)

Na poesia e literatura clássicas, encontra-se o ditado que “homens são pinheiros e mulheres, glicínias”. É possível que, no contexto social da época, fosse considerado necessário para as mulheres apoiar-se em homens para se sustentar, como as flores da glicínia enroladas em um pinheiro. Esteticamente, acrescentavam-se glicínias aos pinheiros porque esta combinação ressalta e amplia a beleza de ambos.

 
Glicínias no pinheiro (Matsu ni Fuji 松に藤)

Fevereiro de 2019

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